Manutenção do amor

Semana passada um casal de idosos, daqueles de cabelinhos totalmente branquinhos e de aparência frágil, me fez presenciar uma das cenas mais bonitas dos últimos tempos.

Eles conversavam sobre o que fazer no almoço de domingo. Eu prestava atenção deliberadamente, graças a Deus. Definido o que ele compraria, despediu-se. E ela o chamou de volta: “vai assim?” Ele: “vou”. Ela: “Vai assim mesmo?” então, ele parou, olhou para ela e voltou, tirou a máscara e a beijou. Não foi um beijo de cinema, claro, mas valeu por muito desses, porque havia ali o que eu chamo de A Manutenção do Amor.

Manutenção do amor é não deixar que os pequenos cuidados se percam na rotina, é lembrar todos os dias os motivos que te fez ficar, é saber o que o outro gosta e proporcionar, pode ser um chocolate, um bilhete, um post-it no espelho.

Manutenção do amor é estar presente, é se fazer disponível, é declarar o que sente por mais que se pense que o outro tem certeza.

Manter o amor em manutenção é não se acostumar com o que sente, é não deixar que o tempo acomode as certezas, é não pensar que o sólido será eterno. Manutenção do amor é a prova do medo de perder,e não devemos deixar esse medo nunca. Talvez seja o medo de perder, o cuidado e a atenção que faz com que o casal que vi, se beijem até hoje, mesmo que nenhum dos dois tenham para onde ir se um dia o casamento acabar. Ter medo de perder a quem torna a sua vida mais bonita e mais completa faz com que eles não deixem nada para trás. Algum leitor cético pode pensar que eles o fazem por hábito. Carinho também não é um hábito a ser cultivado? E esse cultivo é o que tornam as coisas maiores, florescidas e com frutos.

Que a gente não perca a vontade do beijo, eles não têm prazo de validade, tampouco prescrevem.