Normal days

Carolina Machado
1 min readJul 29, 2021

Ela bagunçou tudo quando chegou. Mexeu com meus silêncios e minha vida em compassos lentos. Acorda ouvindo música, o forno sempre ligado e a máquina de café com aquele barulho áspero está em funcionamento diário. Toma banho com a porta aberta e anda de calcinha pela casa.

Bagunçou minha vida, colocou cor onde era branco. Ainda mantenho os dias cinzas para a introspecção, mas quando sento na varanda pra fumar enquanto vejo a cidade se movimentar lá embaixo, ela enlaça meu pescoço senta no meu colo e beija a minha boca com gosto de vinho tinto.

Quando vejo a cidade daqui de cima, ela diz que parecemos cientistas olhando um organismo pelo microscópio. Como nunca pensei nisso? Eu rio e me ponho a imaginar quantos universos cabem ali embaixo enquanto tudo se movimenta? Pessoas correm atrasadas para encontros, trabalho ou loucas para chegar em casa e tirar o sapato, a máscara (a física e a social).

Eu falo isso pra ela e ela diz: — por que tu não escreve tudo o que tá me falando? E sem me deixar responder, me puxa para a cama onde me abraça com o corpo e adormece minha ansiedade. Você me ensinou a não ter pressa. A vida é como um forno, tem tempo e temperatura para ficar no ponto correto.

[ 16/10/2020]

--

--